EDITORIAL

Armindo Veloso



Pesos e medidas
Há coisas na natureza humana que por mais anos que viva nunca vou entender.
Qualquer cidadão tem todo o direito de criticar e até denunciar alguém que de uma forma comprovadamente fraudulenta enriqueça e se ande a pavonear com grandes e muitos sinais exteriores de riqueza – nesta perspectiva é bem vinda a lei que está na forja para criminalizar estes ilícitos.
De facto, quando se vê empresários e gestores que pagam tarde e a más horas – agora com a capa da crise ainda pior – aos seus colaboradores; fogem descaradamente aos impostos para usufruto pessoal e ainda se vangloriam desses seus feitos; desfilam sinais exteriores de riqueza de todo o tipo, o carro muitas das vezes não passa de amendoins, só há um sentimento possível: indignação!
Sendo esse sentimento perfeitamente justificado, já não concordo com os rios de tinta gastos e conversas maledicentes quando se trata de gestores ou empresários que com provas dadas, muitas das vezes ao longo de décadas no país e no estrangeiro, ganham muito bem. Refiro-me aos ‘Mexias’ e aos ‘Catrogas’ deste país.
Quero chegar aqui: e o mundo do Futebol?
Porque será que o povo mais humilde que vive o dia-a-dia com imensas dificuldades acha razoável, pelo menos não critica, o desfile de rapazolas, muitas das vezes analfabetos funcionais, que nunca fizeram nada a não ser dar uns pontapés na bola, pavonearem-se com o mundo aos pés e chegam a ter em cada orelha o valor de um salário anual de um desses trabalhadores?
Será um escape para as frustrações?
Francamente não entendo porque não se paga um limite que poderia ir de cinco mil (!) a vinte mil (!) euros mês, por exemplo, aos jogadores de futebol tendo eles no futuro uma garantia social, digna, uma vez que se trata de uma actividade de desgaste rápido. Ou será que os tais maledicentes do mercado que permite os salários ‘pornográficos’ aos gestores aqui já o vêem com vistas grossas?
Há dois pesos e duas medidas. O mesmo povo que critica alguns empresários e gestores ricos, acha tudo normal no rapaz jogador de futebol. Mais, acha normal o desfile de celebridades algumas com cheiro a argamassa ou coisas piores, ricas, claro, que comem presunto pata negra e marisco nos camarotes enquanto o povão insulta o árbitro e se esgadanha por um fora de jogo que existiu mas os seus olhos não viram.
Ah Império Romano império Romano. Que perto que tu ainda andas, sorrateiramente, nas cabeças de muita gente. Até na minha como este texto comprova.

Até um dia destes.